Quando “não” quer dizer “sim”
Sempre apanhada de calças na mão quando se trata de perceber os movimentos sociais autênticos, a mídia mainstream reagiu ao resgate dos beagles do Instituto Royal da mesma forma como noticiou as manifestações de rua de junho último. Ansiosa por ser mais realista que o rei, num primeiro momento alinhou-se instintivamente ao poder hegemônico: os manifestantes eram “vândalos” e “baderneiros”; “o movimento não representava a maioria”, e “existem formas civilizadas de reivindicar”.
Logo a seguir, sentindo que ia por mau caminho, reformulou o discurso. “Baderneiros” viraram “manifestantes” e a expressão facial dos âncoras dos telejornais – este poderoso recurso textual – mudou imediatamente das sobrancelhas cerradas carregadas de condenação para o tom animado de quem quer fazer parte da festa. Nesses momentos, alguns setores da imprensa assumem uma risível (im)postura de isenção, enquanto aguardam o desenrolar do debate e avaliam as próximas jogadas. Subterraneamente, porém, continuam trabalhando a favor dos aliados de sempre.
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