quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Rádio A Voz da Rússia: O uso de animais como cobaias no Brasil resulta em grandes debates

Foto: AFP

A ação de um grupo de radicais que luta em defesa dos animais levantou em escala nacional um debate até então restrito à comunidade acadêmica e algumas poucas ONGs que militam no setor: o uso de animais como cobaias pela indústria farmacêutica e de cosméticos.
Os ativistas invadiram na última semana um laboratório que matinha, entre outro bichos, cães da raça Beagle para serem usados como testes de eficiência e efeitos colaterais de medicamentos e fitoterápicos para tratamento e cura de diversas doenças, como câncer, diabetes, hipertensão e epilepsia, bem como para o desenvolvimento de antibióticos e analgésicos.

O grupo, que permanecia acorrentando à porta de entrada do laboratório, libertou 178 cachorros, além de sete coelhos. Uma ação que durou cerca de uma hora e meia. Mas com repercussão que se sustenta a dias, culminando na abertura de uma comissão formada por seis deputados federais. Eles irão apurar denúncias de maus-tratos supostamente praticados pelo Instituto Royal, o nome da instituição de pesquisa, em cobaias vivas.

Isso tudo porque, horas após o término da ação dos ativistas, as lideranças publicaram na internet imagens capturadas por câmeras de smartphones com o cenário por eles encontrado no interior do laboratório, sediado na cidade de São Roque, a cerca de 70 quilômetros da capital paulista. O conteúdo da divulgação apontava Beagles com feridas salientes na pele, alguns sem pele em partes do corpo e um cachorro que, entre fezes e urina, mal conseguia andar em sua baia. Os manifestantes encontraram ainda um animal morto, congelado.

Por parte do laboratório, seus executivos rapidamente saíram em defesa da instituição. Seu diretor científico, João Antônio Pegas Henrique, rechaçou qualquer acusação de maus-tratos. "Aqui nossos animais não sentem dor. Não é feito nenhum tipo de teste com crueldade. Seguimos todas as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e da Comissão de Ética no Uso de Animais, além de termos a supervisão do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal", disse. Ele ainda definiu o prejuízo material após a invasão como "incalculável". Segundo o executivo, os ativistas quebraram todo o laboratório, misturaram as drogas, lâminas com testes, além de roubarem computadores com dados das pesquisas, algumas conduzidas há 10 anos.

Crime

Tudo isso posto, a discussão ganhou o Brasil. O ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, afirmou que a invasão foi "fora da lei". Em sua avaliação, os estudos realizados em animais na instituição de pesquisa cumprem a legislação brasileira.

De fato, uma lei assinada em 2008 aprova que instituições como a Royal atuem no Brasil. Aliás, o laboratório, uma organização de sociedade civil de interesse público (Oscip), opera a partir de financiamento proveniente de recursos públicos e é considerado pela comunidade acadêmica um dos mais importantes do País.

Corrobora para apimentar o assunto o fato do Brasil não possuir atualmente um órgão para validar métodos alternativos ao uso de animais em pesquisas científicas, opção denominada in vitro. Essa inexistência é, sem dúvida, uma falha. Sobretudo porque é proibido por lei o uso dos animais quando existem outros meios de se chegar ao mesmo resultado. Trocando em miúdos: o governo proíbe as cobaias quando o mercado oferece uma alternativa in vitro, mas se esquece (ou faz de conta que se esqueceu) de criar um órgão que aprove os testes provenientes da segunda opção.


Como se vê, a discussão está apenas no início. E as falhas registradas de lado a lado nessa questão (do instituto que aparentemente pecava nos cuidados com os animais e dos manifestantes que entraram na marra, levaram os cães e destruíram as instalações físicas) servem de alerta para o governo (em todas as esferas), que costuma empurrar com a barriga questões secundárias até que o problema se instale e a solução se transforme em um espectro de difícil alcance para todos os envolvidos.



A opinião do autor pode não coincidir com a opinião da redação.

Renato Jakitas
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/2013_10_24/photo-Beagles-usados-como-cobaias-levantam-debate-sobre-testes-em-animais-no-Brasil-4166/

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